sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Ateismo

Tem gente que não sabe o que é ser ateu...
mas basicamente ser ateísta é não precisar
de um Deus nem de deuses para justificar os próprios atos.
Não é simplesmente "negar" a existência de deus/deuses.
É assumir a responsabilidade de estar vivo
e viver conforme a própria consciência,
fruto do funcionamento cerebral.
Ser ateísta portanto é não ter vínculos
com outras realidades supra-humanas,
é estar livre para decidir por si mesmo,
sem medo de estar indo contra
ou esperando estar a favor
de algum tipo de supra-consciência
à qual se deva obediência.
É reduzir as crenças a um número limitado delas,
focadas no aqui/agora.
É não se saber ligado aos demais
por algum tipo de poder sobrenatural
mas simplesmente pelo fato de "apenas"
ser um ser humano convivendo
entre os demais seres humanos
e de acordo com as leis humanas.
É não esperar recompensa
por seus atos senão aquelas
que outros seres humanos
possam oferecer como recompensa.
Ser ateísta é ser "simples",
é ter cortado todo excesso,
é enxergar a vida pela perspectiva humana,
sem a necessidade de deificá-la
nem a necessidade de deificar a que quer que seja.
E lógico que ateístas têm Fé,
Fé em si mesmos mas ela não os "cega",
pelo contrário,
ela faz abrir os olhos para o que está acontecendo
a fim de que se tomem as medidas necessárias,
sem acreditar numa outra justiça
maior do que aquela que possa ser levada a cabo
por si mesmo ou pelos desígnios humanos.
Da mesma forma como não há provas da existência de Deus e,
caso alguém afirme categoricamente que Ele existe
o ônus da prova recai sobre quem afirmar,
também não há provas de que ele "não existe"
e nenhum ateísta se engajará de buscar as provas
de uma "não existência", uma vez que não há meios
de provar que algo não existe...Contudo,
há meios sim de aceitar a existência de algo
que comprovadamente existe.
Portanto, para um ateu deixar de ser ateu
bastaria que alguém provasse a existência de Deus,
coisa essa que os teístas em sua Fé em Deus
ainda não foram capazes de provar...
e aí?
Qual o problema em ser Ateu?
Se para que Deus exista basta que se creia nele,
alguém que negue a necessidade de crer em Deus
não pode ser tomado como portador de uma Fé cega...
apenas alguém não preocupado com o que não faz falta.
Faça uma experiência sem medo:
tire Deus/deuses do palco da existência e veja,
perceba o que sobra.
O que sobra?
A mesma vida de sempre...
contudo muito mais "ameaçadora"
pelo fato de exigir a própria tomada de decisões
ao invés de depositar-se tais decisões em alguém
ou algo além de "si mesmo".
Perceba que não tem mais ninguém
observando seus atos além de você
mesmo e assim qualquer coisa que você faça
estará de acordo apenas com a sua vontade,
não a vontade de um ser superior a você.
Pense nisso.
A crença em Deus antes de ser uma "necessidade"
é o maior dos vícios.
Ela expressa imaturidade e a necessidade
de um Pai guiando os próprios passos
de quem estiver "viciado" em acreditar num "pastor",
num condutor.
É alienante e altamente
prejudicial ao desenvolvimento pleno da potencialidade humana...
Visto dessa perspectiva,
um Ateísta só perdeu o vício,
como alguém que deixa de fumar,
como alguém que deixa de beber,
como alguém que deixa de se drogar e entorpecer...
Um ateísta "sabe" que ele é o responsável
por qualquer atitude que venha a tomar.
Daí a opção pela Ética acima de tudo.
Há várias questões
para as quais Deus e a espiritualidade é a resposta,
e que de certa forma quem tentar respondê-las
pode vir a fundamentar-se na crença
em nele ou em espíritos fim de validar as possíveis respostas... v
amos a algumas delas, numa espécie de FAQ:
Como a Matéria sem vida cria vida?
A resposta seria: através da vontade de Deus?
Ou...Um segredo?
Qualquer porção de matéria que contenha os ingredientes
necessários ao desenvolvimento de organismos simples,
ganha "vida" no correr do tempo
sob as condições propícias ao desenvolvimento de tal "vida".
O Universo parece ser apto ao desenvolvimento de vida,
a matéria parece ser apta a desenvolver
seres conscientes em algum ponto da jornada evolutiva...
mas e aí?
Acrescentar um ingrediente a mais em algo não faz desse ingrediente uma necessidade...
a menos que se prove que "SEM" tal ingrediente a vida não se forma...
coisa que parece que está prestes a ser comprovada,
ou seja estamos prestes a comprovar
que bastam os ingredientes e as condições necessárias
ao surgimento da vida para que ela simplesmente "ecluda", apareça.
Mas isso é prova da existência de Deus
ou apenas uma das várias qualidades da matéria
que ainda não conhecemos totalmente?
Como se dá a Percepção extra sensorial?
A Espiritualidade parece Ter a resposta mas...
Somos animais como todos os demais.
Temos sentidos que ainda não conhecemos.
Alguns animais têm sentidosmais apurados que outros...
percebem variações sutis na atmosfera,
vibrações sutis na forma de sons inaudíveis
mas que podem ser sentidos pelas partes moles ou ocas do organismo.
Nós percebemos estes sons inaudíveis...
percebemos o campo magnético da Terra,
percebemos de que forma está tudo interligado na teia da vida...
masisso é prova de que Deus existe,
ou apenas uma das condições de se estar vivo
e imerso num sistema fechado onde tudo co-participa
e é co-dependente?
A suposta "ligação"
entre as pessoas a quilômetros dedistância
pode ser simplesmente fruto de algum sentimento
que as une e isto sim deveria ser estudado,
a forma como o Amor faz romper barreiras
entre o Eu e o Outro...
mas o Amor é prova da existência de Deus?
Ou é algo "imanente" na própria "vida"?
O que é o Amor para que possa ser confundido com um "algo mais"
além de nós mesmos?
Como a Matéria sem propósito criou o propósito e a ordem?
Mas, quem "vê" tal ordem?
Quem "vê" tal propósito senão nós mesmos?
O universo é um caos que nós percebemos ser ordenado...
a inteligência é capaz de ver tal ordem...
mas isso é prova de que Deus existe?
Ou a necessidade de "ver"
tal ordem nasce da necessidade de compreender o caos?
"Ver"
padrões indica que algo está sendo compreendido,
nosso cérebro funciona assim,
ele seleciona partes desconexas e as agrupa
conforme as semelhanças encontradas entre elas...
onde está Deus
na ordem que nós mesmos emprestamos ao Universo?
E a Reencarnação...
como se explica sem a existência de espíritos e Deus?
Hum... Você sabe como o cérebro funciona?
Nem os cientistas sabem completamente...
mas estão pesquisando
ao invés de atribuir as qualidades desse órgão
à existência de um Deus ou de uma consciência migratória.
Sabe-se hoje em dia que tudo o que experimentamos
nasce do equilíbrio físico-químico das reações
que desencadeiam os pulsos elétricos
a serem transmitidos em cadeia pelos neurônios
dentro do cérebro.
Ampute-se uma parte disso, lesione-se alguma região
lá dentro da cabeça de um indivíduo e a "personalidade"
diferenciada por algum ou outro atributo já não existe mais!
Leia o Erro de Descartes do Damásio,
leia O Mistério da Consciência,
O Sentimento de Si também dele.
Não estou "mandando" que se leia...
é apenas uma sugestão.
Assim só para concluir,
ser Ateu não é negar a maravilha, o grandioso, o magnífico.
É simplesmente não precisar de explicações
com base na "fé cega" para algo que carregamos conosco mesmos...
Tire Deus agora e o que sobra?
O Universo, toda a maravilha e beleza que nós experimentamos
a partir de nossa inteligência e nossa capacidade
de vermos padrões e ordenação.
Não há palavras para se descrever o fato
de sermos partes disso tudo e termos inteligência
para perceber a grandiosidade e a infinidade
contida em cada porção mínima de matéria.
Quem já tenha lido sobre a física de partículas,
sobre Mecânica Quântica já faz uma idéia:
A maravilha não para no átomo,
ela adentra ainda mais esse mundo diminuto
estendendo-se para além dos limites de nossa compreensão.
Para quê Deus e tudo o que nos condicionamos a acreditar
que Ele represente para nós?
Já não basta estarmos vivos e experimentando o mundo?
Para que um regente supremo de nossos atos além de nós mesmos?
E se tudo é imensamente maior do que percebemos,
para que cedermos a uma certeza que é a Fé na existência de Deus?
Percebe?
Ser ateu é ater-se ao presente e simplesmente vivê-lo...
é estar ancorado no meio do nada que se faz tudo
quando é observado e vivenciado a partir da inteligência
seja ela humana ou animal, seja ela inerente à matéria
ou não, não importa.
                                                                               Lígia Amorese Gallo - Dez/2003

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